sábado, 30 de agosto de 2014

Anel atlante

                        Ocasionalmente me são feitas perguntas a respeito desse objeto anunciado como  "anel atlante".  Vamos começar esclarecendo que o único poder que ele tem de fato é o marketing criado em torno dele.  Uma rápida pesquisa na rede mostrará várias e diferentes histórias quanto à sua origem, mas todas citando escavações arqueológicas realizadas em tumbas egípcias e ali esse anel teria sido encontrado.  A seguir, em algumas interpretações o anel pertencia ao próprio Tutâncamon  (ou  Tout-Ank-Aamon,  como dizem os mais cultos), outras falam que estava na tumba de um sumo-sacerdote chamado Juá  (me desculpem, cultos, mas esse nome não é egípcio e não sei como se escreveria isso de maneira mais letrada).  Ainda nos mesmos anúncios, se diz que esse anel estava ali naquela tumba, seja lá de quem for, foi pego por um arqueólogo, de sobrenome D’Agrain, que simplesmente nunca existiu, e que este o teria dado de presente a Howard Carter, notório ladrão de tumbas egípcias (digo, arqueólogo) que descobriu a tumba do rei Tut  (aquele que já citei).  Aí são enumerados os  "poderes" do dito anel :  aumenta a percepção extra-sensorial e a telepatia em 50 %,  e que também protege contra forças negativas e faz a sublimação das  positivas, confere bem-estar e até prosperidade financeira a quem o usa. Enfim, o que estão vendendo, pelo que se deduz desses anúncios, não é propriamente um anel e sim um quase-gênio da lâmpada. A credulidade das pessoas fez dele um sucesso de vendas, e a seguir uma decepção para quem comprou.
                          Do ponto de vista da Radiônica, por exemplo, ele é inócuo. Quando as pessoas começaram a deixar de ser tão ingênuas e não mais acreditar nesse anel, lançaram uma novidade associada a ele, uma bugiganga chamada BASTÃO  ATLANTE, que nada mais é do que um tubo de cobre com um cristal de quartzo na ponta e que, promete-se, faz milagres ainda maiores do que os do anel e que se forem usados juntos, potencializam-se seus poderes !  Só pra constar,  Howard Carter não experimentou os poderes do anel porque morreu de linfoma em 1939, e o próprio Tutâncamon, caso tenha sido dele o anel, também não pôde atestar a proteção supostamente atribuída a ele, poi o faraó morreu assassinado aos 19 anos. Talvez Proteção não seja algo que os anunciantes devessem citar nos seus prospectos pois seria propaganda que depõe contra o produto. Mas o fato é que não teve anel nenhum nas escavações, muito menos o tal bastão. Se alguém usa o anel e diz sentir efeitos benéficos, isso se deve à auto-sugestão.  Para comprovar, bastaria pegar alguém que nunca tenha ouvido falar desse objeto, pedir à pessoa que o use por certo tempo e lá adiante perguntar se ela sentiu algo diferente enquanto o usou.
                          Para que ele exercesse algum tipo de proteção ele teria de ser ritualisticamente consagrado para essa finalidade, mas isso poderia ser feito com qualquer anel, e o fato de ser  "atlante"  ou não é totalmente irrelevante  (falei apenas em proteção,  pois isso de aumentar poderes extra-sensoriais não é obtido com  amuletos, talismãs ou coisa que  o valha). O que é assegurado é que ele não tem poderes de proteção, não aumenta nenhuma faculdade extra-sensorial nem sublima energias positivas.   Mas saiba, leitor, que a sua mente, bem orientada e com os procedimentos certos faz tudo o que se atribui a esse anel, e muito mais ainda.  Enfim, esse anel é só mais uma crendice.

                                                                           Mago  Daniel de Ávila

Nenhum comentário:

Postar um comentário